Friday, February 15, 2008

15 de Setembro de 1983

Quel jour sommes-nous
Nous sommes tous les jours
Mon amie
Nous sommes toute la vie
Mon amour
Nous nous aimons et nous vivons
Nous vivons et nous nous aimons
Et nous ne savons pas ce que c'est que la vie
Et nous ne savons pas ce que c'est que le jour
Et nous ne savons pas ce que c'est que l'amour.

(Jacques Prévert)

Thursday, February 14, 2008

Friday, February 08, 2008

Mulher Canibal

E a vagina encosta-se agora à sua boca e lambe e bebe o mel cor de pérola e enfia-lhe dois dedos grossos com o anel de brasão pelo recto acima. Ela urina copiosamente na sua cara e ele gargareja com prazer infantil. Agora ela sorve-lhe o pénis proteico com vigor profissional e enfia-o dentro da sua terceira vagina, na testa. Então, a sua vagina proboscídea começa a sugá-lo até que o corpo de Luís Mendonça está já metade enterrado dentro do ventre da mulher, que quase o engole completamente no momento em que Frasco aparece. Desesperadamente, atira sobre o abominável indígena mas os tiros são absorvidos pela sua pele.

(Manuel João Vieira)

Monday, January 28, 2008

Wednesday, December 05, 2007

Cinco

Hoje as nuvens pareciam nascer da terra.
Quem está bêbada agora sou eu
E com uma vontade enorme de estar contigo
Mas isso tu já sabes
Bem. Demais.
Beijo grande, queridinho.
És o meu todos os dias Há duas semanas atrás
Vou ter de te apagar outra vez.
Estou farta destas brincadeiras adolescentes.
Estava convencida, segura, de que sabias
O que querias
Estava enganada.

Wednesday, October 03, 2007

Samba do Acento

Vamos pôr
os pontos nos is
Eu vou atrás do til
dos teus quadris
que til e tal
cobra no areal
Eu sei que ponho
acento grave em tudo
Mas tu libertas
o acento agudo
Por isso, o til que dás
nas ancas, é capaz
de me pôr a dizer
coisas sem nexo
lua
golo
aliás
gata no banco de trás
num abraço circunflexo

(Manuel Paulo)

Tuesday, October 02, 2007

Noites Bárbaras

"Só espero que continues a ser puta quando te ligar daqui a dez minutos..." 

O sotaque nortenho, amansado pelos anos de faculdade em Lisboa, mas ainda agressivo na essência, conferia àquela frase o condimento necessário para que o momento passasse de inusitado a inesquecível. 

A voz, rouca, de Bárbara, ficou a tilintar na cabeça de Marcos durante os minutos de espera que teimavam em não correr. Assim como uma série de questões à volta da mulher em si. Seria a voz dela naturalmente rouca? Provavelmente a bebida - como ela própria tinha assumido, bebera bastante - teria dado uma ajuda no endurecimento da fala assim como na desfaçatez das palavras. Bárbara. Seria o seu próprio nome, o nome próprio, numa fortuita coincidência, uma declaração de intenções? A ser esse o caso, estava decididamente ansioso pelas suas invasões. "Só espero que continues a ser puta..." Apesar ou além do sorriso provocador, os olhos amendoados não lhe deixaram qualquer réstia de dúvida - ela falava a sério.

Bárbara, Bárbara, Barbarella. Sexy, armada e perigosa. A conversa começara na noite do Porto sobre a noite do Porto, demorara-se um pouco na arte da representação, acabando em Direito Internacional, que ela praticava. Pelo meio, bateram-se numa série de clivagens forçadas. Perderam-se em questões retóricas, semânticas e jogos de palavras: disparates díspares disparados à toa - e nesses momentos as palavras serviam apenas para camuflar um intenso estudo recíproco dos intervinientes no diálogo. Olhos nos olhos. Olhos no sexo. Sexo nos olhos. Bárbara, a Estratega. Trocara-lhe as voltas em menos de nada quando lhe pediu o número de telefone. Com o automatismo de uma actriz que pega numa deixa ensaiada retorquiu de imediato: "Se me deres o teu, terás o meu daqui a uns minutos, quando te ligar. Prefiro assim". Numa questão de segundos ela passara a comandar as operações. Ele insistiu que deveria ser ela a dar-lhe o número, até porque ele pedira primeiro. "Pedi primeiro? Mas serás tu uma criança?!" Ficaram nisto até Marcos perceber que aquilo era o mesmo que regatear com um negociante marroquino - ela simplesmente deixou-o alinhar até o ter onde o queria. Nessa altura, parou. Não brincou mais. E finalmente ele deu-lhe o número, deixando escapar um desabafo entre dentes: "porra. sou mesmo uma puta, quando bebo... aponta aí". Mal lhe saíram as palavras da boca, Marcos sentiu-se algo embaraçado, com medo de ter roçado o brejeiro. Levantou os olhos do chão apenas para constatar que Bárbara, a Guerreira, se limitou a sorrir, cúmplice com o à vontade da sua presa. 

E foi aí que ela soltou a frase que lhe marcaria a memória enquanto existisse: "Só espero que continues a ser puta quando te ligar daqui a dez minutos". Olhos nos olhos. Sexo nos olhos. Pensou em Iggy Pop: "Now I Wanna Be Your Dog". Estavam na porta das traseiras da discoteca, aquela que só quem podia e certamente queria usava, do lado de fora: tinham saído um pouco porque não se conseguiam ouvir lá dentro, e , de qualquer forma, Marcos tinha pedido para lhe arranjarem um táxi, segundos antes de os seus olhos se encontrarem pela primeira vez. Estas coisas aconteciam sempre quando menos se esperava. No final de uma noite recheada de champanhe, morangos e miúdas giríssimas que perdiam toda a piada assim que diziam coisas como "vou para a pista bater chinelo, queres vir?", já a caminho da saída, aparecia-lhe uma ninfa a fazer pouco do seu recém adquirido estatuto de não-tão-jovem-actor-revelação. Regra geral, somava e seguia. Mas houve qualquer coisa nela, não, não qualquer coisa apenas, houve tudo, isso sim, um tudo e todo específico que o deteve. "Fico à espera, disse, ao entrar no táxi. Pediu para seguir para o hotel na Avenida da Boavista, sugerindo ao taxista que não havia pressas: precisava de processar uma série de elementos. Estaria ela na discoteca com um interesse amoroso, um possível namorado, ou apenas com amigas de quem se precisava despedir? Não percebia o porquê de não ter entrado com ele no táxi. Se calhar tinha que levar alguém a casa. Acabara de dar o número a uma perfeita desconhecida e os tais dez minutos já tinham passado faziam outros dez. 

Chegou ao hotel. Meteu a chave na porta do quarto e o telemóvel tocou, número visível mas desconhecido: a rouquidão sensual e dengosa soou do outro lado. "Onde estás? Na Boavista? Qual deles? Diz-me o número do quarto, cinco minutos tou aí." Bárbara, a Implacável. Marcos ligou as colunas do iPod e deixou Iggy cantar aquilo que lhe ía na alma: "so messed up / I want you here / in my room / I want you here / and now we're gonna be face-to-face / and I'll lay down in my favorite place / now I wanna be your dog...". Chamou para o serviço de quartos, pediu champagne e duas flutes. Sentindo-se uma verdadeira puta, feliz na sua pele, disse baixinho, olhando-se no espelho:

"Que as invasões comecem."

(Pacman)

Wednesday, August 22, 2007

SE7EN

O blogue Manual do Contra-Cronómetro deixou-me este desafio:
Cada pessoa escreve 7 factos casuais sobre a sua vida.
Depois passa o desafio a outras sete, deixando um comentário no seu blogue para que essa pessoa saiba que foi desafiada.

Então, aqui vão as minhas respostas:


1 - Gosto de tomar o pequeno-almoço na cama.
2 - Gosto de cães mas prefiro gatos.
3 - Gosto da minha lista do messenger.
4 - Prefiro doces a salgados.
5 - Não gosto de mentirosas e mentirosos.
6 - Farto-me de dizer mal da minha família mas ai de quem disser mal da minha família.
7 - Casar em Las Vegas e ter muitos filhos em Buenos Aires.

P.S.: 8 - Detesto fazer croquis.

Desafio quem gosta de desafios...

Genial de Génio
Lado Esquerdo
Uma Portuguesa Em Paris
Clara À Paris
Menina Limão

Tuesday, August 07, 2007

Tuesday, July 24, 2007

Porta ao Sul

Felizmente que a noite sai
Ainda bem que há nevoa por aí
Estou contente se a luz se esvai
E uma sombra invade este lugar

Se um amanhã perdido for metamorfose de horror

As trevas não vão demorar estou contente se a luz se esvai
Se o céu se fecha sobre nós desprende-se-me uma voz rouca

Se o amanhã perdido for overdose de pavor

Directa sim eu declaro morte so Sol
Directa não e a quem o apoiar Aí vêm a luz

Se o céu não fecha já sobre nós
Revela-se esta imagem atroz

(GNR)

Thursday, December 28, 2006

Buona Settimana

Ciao piccola,
inanzitutto buon lavoro
e che sia proficuo.
Spero di trovarti rigenerata
e pronta ad affrontere le
varie averssità.
Ma sopratutto felice e serena
di ciò che stai vivendo; un qualcosa
che tanti sognano, sperano di fare.
Pensa in positivo, sii ottimista,
in fondo così facendo ci si carica, non si
rimette nulla, al contrario pensare negativamente
porta a star male prima che tale sensazione
o realtà sia effetivamente presente.
Alzarsi la mattina, vedere il sole,
sentirsi vivi, pronti a vivere la nuova giornata
in qualsiasi modo, con fatica o con piacere,
dovrebbe farci dire: grazie a Dio, esisto e sono
contento di esserci, oggi, domani e mi auguro
per tanti giorni, mesi, anni, in modo di comletare la missione
terrena affidatami.
Un abbraccio
e un Bacione
Papà

Tuesday, September 05, 2006

Dancemos

Foi a 13 de Julho de 2006.
Hoje, 17 de Julho de 2006, madrugada,
Pintei uma toalha de mesa e
pintei o tapete da sala
De pernas abertas,
em primeira, segunda e terceira posição
Quarta fechada na paragem de autocarro.
Ele morreu.
Insuficiência cardíaca.
O calor aperta-me. O meu corpo sua
pela boca e pelos olhos.
Fomos lulas. Fomos meninas.
Somos mulheres.
Encontramo-nos na morte.
Scribbling on the sky the message He Is Dead.
Scribbling on the sky the message
Ele é o nosso mestre.
Ele foi o nosso mestre.

Dancemos.

Wednesday, May 10, 2006

My Favorite Things

Raindrops on roses and whiskers on kittens,
bright copper kettles and warm woolen mittens,
brown paper packages tied up with strings,
these are a few of my favorite things.

Cream colored ponies and crisp apple strudels,
door bells and sleigh bells and schnitzel with noodles.
Wild geese that fly with the moon on their wings.
these are a few of my favorite things.

Girls in white dresses with blue satin sashes,
snowflakes that stay on my nose and eyelashes,
silver white winters that melt into springs,
these are a few of my favorite things.

When the dog bites, when the bee stings,
when I'm feeling sad,
I simply remember my favorite things,
and then I don't feel so bad.

(John Coltrane)

Thursday, February 23, 2006

Tuesday, February 21, 2006

Equinocios da  Clementina

paisagem / macia e oblíqua pétala de rosa. sabes bem que gastaria anos e anos aperfeiçoando essa gota de orvalho que te define o lábio. corpo-borboleta-crepuscular em desejos coloridos na areia. asas ligeiras de precioso metal, como as dos meninos virgens que ainda não aprenderam a voar. águas envolvem-te para sempre, Tangerina. os desejos perderam-se nas maresias que já não te evocam, nem o pouco vento que me acorda e alisa te desperta no pensamento, o mar levou-te, comeu-te. uma nuvem de corvos pousa no dia a morrer. foi simples vivermos assim, entre duas mantas, num humilde abrigo de caniços e junco. sem mobília, sem tapetes, sem televisões, sem família, sem... a humidade entrava, noite após noite, nos corpos que tentavam ignorar-se, se recusavam, para mais violentamente se possuírem. /

(Al Berto)

A Religião e o Ópio do Yves Saint Laurent

Tuesday, January 24, 2006

Elogio ao Amor

"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. 

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. 
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.

O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.
A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.

O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. 

O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.

Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

(Miguel Esteves Cardoso)

Wednesday, January 11, 2006

Presenting Miss Crystal Yu

Amelie meets Mithrandir

Para os viajantes...

Trust me
It's Paradise
This is where the hungry comes to feed
For mine is a generation that circles the globe
in search of something we haven't tried before
so never refuse an invitation
never resist the unfamiliar
never fail to be polite
and never outstay your welcome

just keep your mind open and
suck in the experience
and if it hurts
you know what... it's probably worth it

you hope, and you dream
but you never believe that something is gonna happen to you
not like it does in the movies
and when it actually does
you expect it to feel different
more visceral
more real
I was waiting for it to hit me

I still believe in paradise
but now at least I know it's not some place you can look for
cause it's not where you go
it's how you feel for a moment in your life
and if you find that moment
It will last forever.

(Orbital)

Psicopatas

EXD SET05

Monday, January 09, 2006

O me! O life...

O me! O life...
Of the questions of these recurring
of the endless trains of the faithless
of the cities filled with the foolish
what good amid these,
O me, O life?
Answer,
that you are here,
that life exists, and identity
that the powerfull play goes on
and you may contribute a verse.

(Walt Whitman)